Joaquim Figueiredo - Mesmo... ainda há muitos Vasconcelos
José Manuel Nero - Portugueses é que já não há, a prova é o estado em que está o País.
David Ribeiro - Ou então, José Manuel Nero, o mais provável é que mesmo aos tropeções e à falta de melhor é isto que os portugueses querem.
José Manuel Nero - David Ribeiro Sim, julgo que o parte da população é mesmo isto que quer. Para esses, é tudo muito mais fácil vantajoso em termos económicos sem exigir trabalho ou responsabilidade. As crianças de hoje vão ser os escravos de amanhã tal vai ser, essa sim, a pesada herança que lhes vamos deixar.
Jorge Veiga - Há tanta janela desaproveitada...
Mas, nenhuma palavra me fascinava tanto quanto "defenestração".
A princípio foi o fascínio da ignorância. Eu não sabia o seu significado, nunca me lembrava de procurar no dicionário e imaginava coisas. Defenestrar deveria ser um acto exótico praticado por poucas pessoas. Tinha até um certo tom lúbrico. Galanteadores de calçada deveriam sussurrar ao ouvido de mulheres:
- Defenestras?
A resposta seria uma bofetada na cara. Mas, algumas… Ah, algumas defenestravam.
Também podia ser algo contra pragas e insectos. As pessoas talvez mandassem defenestrar a casa. Haveria, assim, defenestradores profissionais.
Ou quem sabe seria uma daquelas misteriosas palavras que encerram os documentos formais? “Nesses termos, pede defenestração...” Era uma palavra cheia de implicações. Devo até tê-la usado uma ou outra vez, como em:
- Aquele é um defenestrado.
Dando a entender que era uma pessoa, assim, como dizer? Defenestrada. Mesmo errada era a palavra exacta.
Um dia, finalmente, procurei no dicionário. E aí está o Aurelião que não me deixa mentir. “Defenestração” vem do francês “Defenestration”.
Substantivo feminino. Acto de atirar alguém ou algo pela janela.
Ato de atirar alguém ou algo pela janela!
Acabou a minha ignorância, mas não minha fascinação. Um acto como esse só tem nome próprio e lugar nos dicionários por alguma razão muito forte. Afinal, não existe, que eu saiba, nenhuma palavra para o acto de atirar alguém ou algo pela porta, ou escada a baixo. Por que então, defenestração?
(…)
- Com prédios de três, quatro andares, ainda era possível. Até divertido. Mas, daí para cima é crime. Todas as janelas do quarto andar para cima devem ter um cartaz: “Interdito defenestrar”. Os transgressores serão multados. Os reincidentes serão presos.
Na Bastilha, o Marquês de Sade deve ter convivido com notórios defenestradores. E a compulsão, mesmo suprimida, talvez ainda persista no homem, como persiste na sua linguagem. O mundo pode estar cheio de defenestradores latentes.
- É essa estranha vontade de atirar alguém ou algo pela janela, doutor…
- Humm, O Impulsus defenestrex de que nos fala Freud. Algo a ver com a mãe. Nada com o que se preocupar – diz o analista, afastando-se da janela.
Quem entre nós nunca sentiu a compulsão de atirar alguém ou algo pela janela? A basculante foi inventada para desencorajar a defenestração. Toda a arquitectura moderna, com as suas paredes externas de vidro reforçado e sem aberturas, pode ser uma reacção inconsciente a esta volúpia humana, nunca totalmente dominada.
Uma multidão cerca o homem que acaba de cair na calçada. Entre gemidos, ele aponta para cima e balbucia:
- Fui defenestrado…
Alguém comenta:
- Coitado. E depois ainda o atiraram pela janela.
Agora mesmo deu-me uma estranha compulsão de arrancar o papel da máquina, amassá-lo e defenestrar esta crónica. Se ela sair é porque resisti.
(Luís Fernando Veríssimo n'O Candeeiro do Vasco - 1dez2013)
Joaquim Figueiredo - David Ribeiro excelente texto... obrigado pela partilha. Atirar pela porta fora, não será deportar? Óptimo feriado
Ainda vai dar um treco ao André Ventura
(...) Ao lembrar tantos portugueses, de tantas origens, que se envolveram no movimento revolucionário, o Presidente da República quer lembrar também os Portugueses de etnia cigana que, como reconheceu então o próprio Rei D. João IV, deram a vida pela nossa independência nacional. O “cavaleiro fidalgo” Jerónimo da Costa e muitos dos duzentos e cinquenta outros ciganos que serviram nas fronteiras “procedendo na forma de traje e lugar dos naturais” tombaram por Portugal. Portugal lembra-os, presta-lhes homenagem e exprime a sua gratidão. Este dever de memória é de elementar Justiça e rompe com tanto esquecimento e discriminação de que os ciganos têm, infelizmente, sido alvo no nosso País.
No dia em que se comemora a Restauração da Independência Nacional dou comigo a pensar que ainda há cá pelo Norte muitos que deviam levar o mesmo destino do Miguel de Vasconcelos, arremessado da janela do Paço Real de Lisboa pelos conjurados no 1º de Dezembro de 1640. Sendo sabido que as actuais vendas de bens ao exterior das empresas com sede na Região Norte representam perto de 20 mil milhões de euros, ou seja, 38,8% do total das exportações do país, é seguramente esta a altura de regressarmos à luta pela Regionalização, para mal dos pecados dos centralistas do Terreiro do Paço.
Então?... Hoje é o 1º de Dezembro e parece que ainda ninguém limpou o sebo a nenhum dos “Miguel de Vasconcelos” que há por este nosso Portugal. Está na hora de tomarmos nas nossas mãos o PODER deste País.
«Zé Zen» in Facebook >> Ninguém quer mecher na merda :)
«David Ribeiro» in Facebook >> [Parlamento] - Miguel de Vasconcelos (1590-1640) foi nomeado escrivão da Fazenda do Reino em 1634 pelo Conde-Duque de Olivares. Um ano depois, a vice-rainha Margarida de Saboia (Duquesa de Mântua) nomeia-o Secretário de Estado. A deficitária economia do país e o constante favorecimento de Castela em detrimento dos interesses portugueses, fizeram eclodir em várias localidades do país revoltas e motins populares. O desprestígio das ações de Miguel de Vasconcelos neste contexto levou ao levantamento das massas em Évora e no Algarve em 1637, com ecos noutras zonas do país. O culminar desses distúrbios deu-se a 1 de dezembro de 1640 (Restauração da Independência), quando um grupo de fidalgos invade o palácio real de Lisboa e mata a tiro o Secretário de Estado, lançando em seguida o seu corpo pela janela, para junto da multidão que se aglomerava no Paço da Ribeira.
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