LEMBRAS-TE MARIA JOÃO?
1980 e picos…5 "cromos", empilhados num Fiat Tipo, partem de férias, rumo a Marrocos.
Alguém tinha convencido o José Raposo que o chá, em Tânger custava mais de 15 contos e o mais natural seria regressarmos tesos mas com meia dúzia de camelos por troca pelas 3 airosas chavalas que nos acompanhavam…
Acabadinhos de entrar em Espanha, a Maria João Abreu, arranca num pranto danado.
-Que se passa João?
Ela nada. Continua a chorar convulsivamente.
Fica um pesado silêncio e um só pensamento…férias estragadas.
Depois de "apertar" com ela, diz-me envergonhada:
-É a primeira vez que venho ao estrangeiro.
Gargalhada geral e lá vamos nós de "vacances". A partir daí foi sempre a descer.
O Zé chateava toda a gente, porque disparava fotografias a torto e a direito e obrigava-nos a ficar em pose, enquanto escrevia num papel o local, dia e hora.
A contabilidade ficou estragada, na fronteira, quando ele resolveu, tirar umas fotos aos soldados marroquinos que espancavam uma mulher, que teve a insensatez de lhes dar apenas uma meia dúzia de moedas para comprar o direito de passar o contrabando comprado em Ceuta.
Óbvio que rolo da máquina ficou na posse do Real Estado de Marrocos.
Depois de o Zé cair em desgraça, chegou a minha vez. A estrada panorâmica para Tânger, que o Guia Michelim me tinha recomendado, tinha desabado no inverno anterior e, pelo olhar acusatório, passei de insigne viajante a insigne-ficante.
Chegado a Tânger fui dormir para o Hotel e os outros vestiram os fatos de banho para ir até à praia.
O Zé regressa eufórico com um jogo de futebol, contra um grupo de marroquinos e marcou golo sobre golo.Pudera! Os tipos quando viram aqueles três biquinis, deixaram-no à solta para apalparem as distintas colegas.
Castigo dos céus, ele apanhou uma diarreia e ficou de "castigo" e explicava a tudo e todos, no seu melhor francês:
-Je "espichê"…
Em Fez, um tipo ameaçou-nos com a reconquista muçulmana mas, quando lhe falei da terrível retaliação com o bombardeamento de barris cheios de água do rio Leça, ele ficou preocupado e talvez isso explique o facto de não termos sofrido atentados.
Em todo o lado éramos recebidos em glória pelos putos. Mal viam uma matrícula de Portugal, a corriam atrás do carro aos gritos:
-Madjer! Carlos Cruz!
As férias lá foram correndo, apesar de uma avaria no carro, solucionada com recurso ao artesanato berbere, o ataque de pânico da João quando me penduraram uma cobra enorme à volta do pescoço e o pânico geral quando nos cruzamos com uma excursão das finanças de Gaia, na medina de Marraquexe.
Eram tempos estranhos aqueles. Sem telemóveis, os turistas, estavam condenados a olhar as coisas, falar com os nativos, sem direito a selfies e mensagens cheias de emojis.
Claro que tínhamos de ir aos "recuerdos".
Todos compramos umas coisinhas, excepto a João que não fez a coisa por menos e trouxe mais património marroquino que os franceses em séculos de colonialismo. Foi uma luta na alfândega para explicar aos funcionários que não éramos contrabandistas e ainda tinha ficado lá muito material para os próximos turistas.
A despedida foi épica. Como todos queriam ouvir música tradicional, desaguamos num bar de "meninas".
Tenho de confessar que brilhei naquela noite.
Ainda estavamos atentar perceber onde nos tínhamos metido, já o chefe da banda apontava para mim, dizendo para ali umas coisas de que não percebi nada (confesso que o meu árabe foi sempre um bocado fracote), sai do palco e pespega-me um beijo (sem língua) e arrasta-me para a pista.
Depois de uns passos de dança, passou-me de mão em mão por todos os homens presentes, que me davam um beijo e os respectivos passinhos, segurando-me as mãos.
As "meninas" de serviço, olhavam para mim com um olhar guloso, suspirando por um beijinho e uma dança com o "je", mas não ousavam aproximar-se, para mal dos meus pecados.
"Esparvoado" tentava perceber o que se passava, até que dou com os meus colegas de viagem, encostados ao balcão, a rirem escandalosamente. Só depois me explicaram que tinha sido confundido com o grande cantor romântico marroquino, uma espécie de Tony Carreira lá do sítio.
No dia seguinte, acordamos bem cedo, porque era o último dia de Agosto e sabia que milhares e de emigrantes estariam no porto para apanhar o ferry. Foram horas e horas de espera e só de madrugada atravessamos para Algeciras.
Regressamos a mata cavalos a Lisboa por questões profissionais.
Como era normal, mal se metia a chave na ignição, adormeciam todos e só eu e a João permanecíamos acordados, para nos revezarmos ao volante.
Cheio de sono, já a fazer curvas em plena recta, pedi-lhe para conduzir um bocadinho e zás! Adormeci em menos tempo do que demoro a dizer anticonstitucionalissimamente.
Acordo com um ruído estranho e fico espantado com o que vejo.
A Maria João esbofeteava-se violentamente, alternando com ferozes beliscões:
-Ó João, que se passa? Estás zangada com alguma coisa?
-Não tudo bem. É só para não adormecer.
Acabamos a dormir na berma, perto de Sevilha mas, mal acordou, toca a acelerar que estava ceia de saudades do puto Miguel. Na altura o Ricardo ainda estava em projecto e mesmo sem ainda ter nascido, já ela era doida por ele.
Ela "era" assim. Estóica; determinada; solidária; amiga; terna; mãe leoa…eu sei lá!
Até à vista João!
Escolhi esta foto do espetáculo "Estádio da Nação"- 2003, no Teatro Sá da Bandeira, assim brilhará no firmamento e todos saberão logo que é ela.
(13mai2021 - Óscar Branco, na sua página do Facebook)
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