"Devido à velocidade da luz ser superior à do som, algumas pessoas parecem inteligentes até as ouvirmos."
Sábado, 21 de Junho de 2025
Francisco Seixas da Costa... quando se fala do Irão

Numa altura em que Israel e os EUA falam em "regime change" no Irão, é interessante ler esta publicação.

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No final dos anos 50, as revistas de atualidades que, em Vila Real, havia lá por casa - "O Século Ilustrado" e a "Flama" - trouxeram amplas reportagens sobre o divórcio do Xá da Pérsia da sua segunda mulher, Soraya. Eu era miúdo mas recordo a simpatia que, para as senhoras amigas da família, merecia a jovem imperatriz que tinha sido forçada a afastar-se do Xá pelo facto de não conseguir dar-lhe um herdeiro. Soraya era muito bonita, tinha uns belos olhos verdes, mas a imagem que dela guardo é a preto e branco, são fotografias em que ela aparecia com um ar permanentemente triste. A tragédia de Soraya ficou-me para sempre na memória. Mais tarde vim a saber que veio a acabar por ter uma desafogada vida em Paris, embora aparentemente não muito feliz.

Após o divórcio de Soraya, o Xá, Reza Pálavi, que não perdia tempo, encontrou, quase de seguida, uma outra mulher, Farah Diba, bastante mais nova do que Soraya, que passou a ser a nova Xabanu, título que significa mulher do Xá. Quando Pálavi foi afastado do poder, fugindo do Irão, Farah Diba acompanhou-o.
No tempo em que fui embaixador em França, privámos com um simpático casal iraniano, que tinha um andar magnífico, no Boulevard Saint Germain, com vista sobre o Sena. Por duas vezes, em jantares, cruzei por lá a deposta imperatriz Farah Diba. Tinha então pouco mais de 70 anos e era sempre a convidada de honra desses nossos amigos. Ao que sei, o meu antecessor, António Monteiro, teve-a como visita na nossa residência.
Farah Diba era uma senhora elegante e discreta, que se relacionava com toda a gente que por ali andava, com aparente simplicidade. De uma das vezes em que conversámos, falou-me, com imensa admiração e gratidão, do presidente egípcio Anwar Al Sadat, o único que tivera coragem de receber o Xá no exílio. Já sem nota visível de ressentimento, mesmo com alguma ironia, comentou que, dos muitos amigos que o seu marido foi tendo, enquanto esteve no poder, praticamente todos se tinham prudentemente afastado após a queda da monarquia em Teerão, desde logo a começar pelos Estados Unidos. Por curiosidade, perguntei-lhe se mantinha contactos com a sua família no Irão. Disse-me que a grande maioria dos seus familiares mais próximos estavam fora do país - em Paris, na Suíça, em Londres ou nos Estados Unidos - mas que, por vezes, ainda era procurada por algumas pessoas vindas do Irão. Pouco lhe consegui extrair, em termos de comentário, sobre a situação que então se vivia no seu país. Era um tema a que manifestamente fugia.
Por esse tempo, Farah Diba vivia em Paris, curiosamente a cidade onde o Xá a conhecera, meio século antes. Em Paris, também viveu e morreu Soraya. De Paris partiu, em 1979, para derrubar o regime do Xá, o Ayatollah Khomeini.
O filho de Farah Diba, que há muito vive nos Estados Unidos, tem vindo a sugerir-se, nos últimos dias, como alternativa de poder em Teerão, no caso de um processo de "regime change". O retorno de monarcas aos antigos tronos não está muito na moda, mas, sabe-se lá! Com Trump, qualquer absurdo parece possível.
 
   João FernandesOutros tempos. Na actualidade, a monarquia não é uma opção.


Publicado por Tovi às 07:07
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