"Devido à velocidade da luz ser superior à do som, algumas pessoas parecem inteligentes até as ouvirmos."
Quarta-feira, 18 de Maio de 2022
2ª Conferência de “Valdai Discussion Club”

Desde ontem e terminando hoje [17 e 18 de maio] temos na cidade russa de Níjni, a 2ª Conferência da Ásia Central de “Valdai Discussion Club”. O tema deste ano é “Rússia – Ásia Central: Cooperação e Desenvolvimento no meio da Instabilidade”.
A Conferência da Ásia Central terá a participação de cerca de 40 especialistas de 9 países – Rússia, China, Índia, Irão, Cazaquistão, Quirguistão, Paquistão, Tajiquistão e Uzbequistão. Esta cidade de Níjni, uma das maiores cidades da parte europeia da Rússia, foi escolhida como sede da Conferência da Ásia Central, para servir de ligação entre a Europa e a Ásia do ponto de vista histórico e civilizacional. O simbolismo desta escolha reside no facto desta cidade ser a retaguarda da Rússia: durante o Tempo das Perturbações, foi lá que a milícia popular foi formada para combater os intervencionistas europeus e, durante a Grande Guerra Patriótica, as forças industriais e intelectuais. As reservas humanas da cidade deram uma contribuição inestimável para a vitória da ex-União Soviética sobre a Alemanha nazi.
Os principais temas da conferência são os seguintes:
Desenvolvimento da Rússia e da Ásia Central no contexto de novas turbulências geopolíticas;
Segurança coletiva na Ásia Central;
Cooperação entre a Rússia e os países da região no domínio da economia e dos transportes;
Laços inter-regionais entre a Rússia e as cinco repúblicas da Ásia Central.
Andrey Sushentsov, diretor do programa Valdai Club
Fundamentos estratégicos da crise ucraniana
Provavelmente estamos no ponto de partida de uma crise que se desenrola e não perto de seu fim. Por que as relações russo-ucranianas dizem respeito a todos os russos e ucranianos? Até certo ponto, o que está acontecendo é uma guerra civil atrasada, que poderia ter acontecido no início dos anos 1990 com o colapso da URSS, quando a primeira geração de líderes russos e ucranianos se gabava de ter evitado um divórcio sangrento como o da Jugoslávia. Na Rússia, todas as pessoas têm parentes no país vizinho e o que está acontecendo lá é mais uma questão de política doméstica. Por exemplo, se o governo ucraniano fechar igrejas ortodoxas russas ou banir um partido político de oposição pró-russo, a história terá cobertura imediata na TV estatal e políticos russos emitirão declarações.
(...)
A primeira proposta diplomática que a Rússia fez no início da crise foi que a Ucrânia permanecesse neutra, que a Crimeia fosse reconhecida como território russo e que as repúblicas do Donbas fossem reconhecidas como independentes. Em resposta a essas demandas, a Ucrânia apresentou a sua própria: a repatriação completa de seu território anterior a 2014 e nenhum passo em direção à Rússia. A maximização das demandas ucranianas significa que um ponto de equilíbrio ainda não foi encontrado na campanha militar em andamento. No entanto, ele tem suas próprias opções de desenvolvimento. No primeiro cenário, o atual governo ucraniano e a Rússia firmam um acordo que leva em consideração as demandas russas, e esses acordos são reconhecidos pelo Ocidente como parte de um pacote de segurança europeu. A crise russo-ucraniana daria lugar a um confronto político-militar russo-ocidental, semelhante à Guerra Fria. O segundo cenário pressupõe o desenvolvimento de eventos sob a influência da situação militar no terreno. Como resultado, ou um equilíbrio é inevitavelmente encontrado, ou uma das partes prevalece. Nesse caso, há riscos de que o Ocidente não reconheça os resultados do acordo, e um novo governo ucraniano surja e seja combatido pelo governo no exílio. A partir do Ocidente, haverá um sistema de apoio ao subterrâneo ucraniano, semelhante ao que existia no oeste da Ucrânia na década de 1950. O terceiro cenário envolve uma forte escalada de tensão entre a Rússia e o Ocidente. É possível que a crise se espalhe para os países da NATO ou a escalada da guerra de sanções contra a Rússia siga na esperança de abalar os fundamentos do estado russo. Nesse caso, os riscos de uma confronto nuclear aumentarão. No entanto, até agora, vemos que os líderes ocidentais estão se distanciando de tais planos e dizendo que não enviarão forças da NATO para esse conflito. No entanto, vimos repetidamente como o Ocidente cruza suas próprias “linhas vermelhas” – isso pode realmente acontecer novamente
Negociações Moscovo - Kiev
Não há negociações entre as delegações russa e ucraniana neste momento, segundo disse o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Andrey Rudenko, durante a 2ª conferência da Ásia Central do clube de discussão internacional Valdai. Acrescentou: “As negociações não continuam. A Ucrânia, de facto, desistiu do processo de negociações". Vladimir Putin, numa conversa telefônica com o presidente da Finlândia, Sauli Niinisto, já tinha dito que as negociações Moscovo-Kiev foram interrompidas porque "o lado ucraniano não demonstrou interesse num diálogo construtivo".
Os "amigos" de Putin na UE e na NATO
O aliado mais próximo de Putin na União Europeia é o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, que já ameaçou vetar a proposta de sanções ao petróleo russo que os outros 26 estados-membros aprovaram. [A Hungria é membro da UE desde maio de 2004]Da mesma forma, na NATO, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, não vê com bons olhos a possível adesão das potências historicamente neutras da Finlândia e da Suécia, cuja adesão é apoiada pelo resto da aliança. [A Turquia é membro da NATO desde 1952]
E depois eu é que sou “russófilo”
As receitas de petróleo da Rússia dispararam 50% este ano, isto apesar das sanções aprovadas pelos Estados Unidos da América e pelo Reino Unido. Apesar da sua vontade de reduzir a dependência do petróleo russo, a União Europeia manteve-se como o principal mercado das exportações russas em abril, pesando 43% no total. Moscovo ganhou 20 mil milhões de dólares por mês este ano com a venda de crude e de produtos refinados, a um ritmo de oito milhões de barris por dia, segundo dados da Agência Internacional de Energia (IEA), citadas pela “Bloomberg”.
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