Assim não vale… contam de uma só vez uma quantidade de episódios da “telenovela” Processo Marquês e a gente nem tem tempo para perceber a história
Para memória futura
José Sócrates pediu a palavra. “O que tenho a dizer é muito desagradável, mas tenho de o dizer: estas imputações são falsas, todas elas. Não há neste documento um pingo de verdade. E lamento que o Ministério Público não se interesse pela descoberta da verdade, mas que esteja mais concentrado na perseguição”.
Sócrates acusa Rosário Teixeira de o insultar, acusando-o de ser corrupto “só por ter um contrato com uma farmacêutica”.
O procurador Rosário Teixeira levanta novas suspeitas sobre as operações de compra da antiga quinta em Sintra de Domingos Duarte Lima, nomeadamente com passagens de propriedade para um primo de Sócrates e, depois, para um empresário do grupo Lena. A resposta de Sócrates foi no mesmo registo: “E, portanto, como era do meu primo é meu. Pronto, é assim que os senhores fazem imputações. Epá, parabéns”.
Rosário Teixeira volta à quinta de Sintra. E Sócrates a negar conhecer o local ou sequer de ter conversas sobre o assunto: “Não me lembro de nada disso. Eu não sou íntimo do Duarte Lima. A não ser que queira pôr aqui que, como era propriedade do Duarte Lima, então pertencia ao Sócrates. Não quer acrescentar?“.
O procurador não desistiu e falou da venda da quinta e de um pagamento feito a Carlos Santos Silva, no valor de um milhão de euros, mais estranho quando o empresário não figurava como dono do terreno. Sócrates ironizou: “É natural, é meu”.
Rosário Teixeira perguntou a Sócrates se conhecia os negócios do seu primo no que respeita aos terrenos em Vale do Lobo e em Angola, também na mira do MP. A resposta foi negativa e veio com um desafio: “Pergunte-lhe a ele, não o posso ajudar”.
“Como é que o senhor se atreve a fazer-me imputações de corrupção em casas da Venezuela, concessões rodoviárias, TGV, Parque Escolar e, agora, o aeroporto? Se tem algum elemento, faça o favor de me apresentar”, disse Sócrates.
Rosário Teixeira perguntou: “Admite que alguma vez o senhor Carlos Santos Silva tenha pedido contrapartidas à Lena invocando o seu nome?”. E Sócrates respondeu: “Não, não admito, porque tenho a melhor das ideias do Carlos Santos Silva”. E acabou por desabafar: “Escreve aqui corrupção e pronto. Isso é só para me manterem na prisão. Não consegue precisar nada”.
Rosário Teixeira falou de uma “coincidência entre um pagamento a Hélder Bataglia e a aprovação pelo Governo de então do Plano de Ordenamento que autorizaria o empreendimento. Resposta de Sócrates: “A única coisa que sei de Vale do Lobo é o restaurante onde ia de vez em quando jantar. Não faço ideia quem são os accionistas”.
Nova pergunta do procurador: “Porque é que houve então um pagamento da parte de Vale do Lobo a Carlos Santos Silva?”. Resposta: “Desculpe lá, mas eu sei lá isso”.
Sócrates fez acusações sucessivas aos procuradores e ao modo como o estavam a “perseguir”. Rosário Teixeira respondeu que o tratava “como outra pessoa qualquer”, Sócrates reagiu dizendo que não, numa frase entendida por Rosário Teixeira como ofensiva. “Desculpe, eu não estou a ofendê-lo, estou a criticá-lo (…). O sr. procurador não pode ser assim uma virgem vestal a quem não se pode dirigir uma crítica”.
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