"Devido à velocidade da luz ser superior à do som, algumas pessoas parecem inteligentes até as ouvirmos."

Domingo, 25 de Junho de 2017
Floresta Portuguesa

2006002757.jpg
Agora que os trágicos incêndios que assolaram a região Centro estão a acalmar, é altura de reflectir seriamente nestes números:

a) A Floresta Portuguesa ocupa 3,2 milhões de hectares, o que corresponde a 35,4% do território nacional;

b) A propriedade florestal em Portugal é maioritariamente privada, detida praticamente em exclusivo por pequenos proprietários de cariz familiar, com 2,8 milhões de hectares, ou seja, 84,2% da área total;

c) Somente 6,5% da área florestal privada são pertencentes a empresas industriais;

d) Unicamente 2% (a menor percentagem da Europa) são do domínio privado do Estado;

e) O eucalipto é a espécie florestal predominante, com 25,4% da ocupação (equivalente a 812 mil hectares), seguindo-se o sobreiro com 23% (perto de 737 mil hectares) e o pinheiro bravo com 22,3 % (mais de 714 mil hectares de floresta);

f) A dimensão da propriedade florestal tem uma distribuição geográfica muito marcada, sendo que o grande número de prédios se situa no Norte e Centro, onde as explorações chegam a atingir dimensões com menos de um hectare, estimando-se a existência de cerca de meio milhão de proprietários florestais;

g) Apesar do elevado número de proprietários e a pequena dimensão da propriedade florestal os bens produzidos por esta via sustentam uma importante e integrada cadeia industrial, baseada em recursos naturais, suportando por si, um forte sector de exportação (segundo uma estimativa relativa a 2001 a produção económica anual efectiva era de 1,3 milhões de euros, ou seja, 344 euros/ha/ano);

h) Do ponto de vista de transacções para o mercado internacional de produtos florestais e de base florestal, os mais importantes são o papel e cartão, a pasta de papel, a cortiça, a madeira e produtos de resina e mobiliário.

 

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«Albertino Amaral» - Números interessantes que deveriam merecer a reflexão, o cuidado e a preocupação organizacional do Governo. Afinal, Portugal é uma fazenda, comparado a outras nos EUA ou na Austrália.....

«David Ribeiro» - Curiosamente, e isto é muito importante, somente 6,5% da área florestal privada são pertencentes a empresas industriais, maioritariamente de celuloses... e estas não ardem. Porque será?

«Albertino Amaral» - Será que ali existe uma tecnologia anti-fogo que nós não conhecemos ? Só pode........

«David Ribeiro» - Claro que há... Chama-se PREVENÇÃO. Vejam aqui como é que as empresas florestais sérias (as tais que não ardem) tratam da sua segurança: A AFOCELCA é um agrupamento complementar de empresas do grupo The Navigator Company e do grupo ALTRI que com uma estrutura profissional tem por missão apoiar o combate aos incêndios florestais nas propriedades das empresas agrupadas, em estreita coordenação e colaboração com a Autoridade Nacional de Protecção Civil.

«Mário Santos» - Os concursos para os fundos comunitários são ganhos pelas grandes propriedades (latifúndios) e raramente no Norte (2%) e no Centro do País.

«David Ribeiro» - Já era tempo de cá pelo Norte se apostar no associativismo e deixarem os "quintais". E isto aplica-se à floresta e a outras actividades rurais.



Publicado por Tovi às 08:06
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Quinta-feira, 11 de Agosto de 2016
Porque arde Portugal?

Só quem ainda não parou para pensar é que manda com as culpas do flagelo dos incêndios florestais única e exclusivamente para os pirómanos ou para as condições climatéricas adversas. Se falarem com gente séria de uma qualquer corporação de bombeiros voluntários, que ainda há gente séria nos “soldados da paz”, ficarão a saber a monstruosidade a que chegou o negócio dos incêndios nas matas e florestas deste nosso Portugal.

E por tudo isto recomendo-vos que leiam com atenção o artigo de Miguel Santos, publicado na última terça-feira no “Observador”, com o sugestivo título:

  Porque arde Portugal?

Incêndios Porque arde Portugal Ago2016 ab.jpg

O país está coberto de fogo, fumo e cinzas. As condições meteorológicas anómalas ajudam a explicar o fenómeno, mas não basta. O sistema de resposta e combate a incêndios "quebrou". Quebrou porquê?
“Esta vaga de incêndios não é propriamente uma surpresa. A memória das pessoas é que é relativamente curta”. A sugestão é de Paulo Fernandes, especialista em incêndios e investigador no Departamento de Ciências Florestais da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). Foram precisos apenas “dois dias” para arderem “50 mil hectares” e, por muito tentador que seja, não é possível justificar esta anormal vaga de incêndios exclusivamente com a “anomalia meteorológica” que se sente sobretudo no noroeste do país, para lá do Rio Lima. Não chega. Esta, diz o investigador, “é a prova provada de que não é preciso muito para o sistema quebrar“.
E quebrou porque o sistema de prevenção e combate a incêndios é estruturalmente desajustado, assume o especialista. “O país precisa de uma reforma estrutural na forma como se combatem os incêndios em Portugal”. Os “anos benignos”, em que as condições meteorológicas e ambientais foram menos severas, permitiram “disfarçar” as debilidades do sistema português, a anos-luz dos congéneres espanhol, italiano e francês, por exemplo, e transmitiu um “falso sentido de sucesso“.
Este falso “sentido de sucesso”, nas palavras do investigador, serviu apenas para esconder a “muita descoordenação” entre responsáveis e autoridades, a descoordenação também na forma como são utilizados “os meios disponíveis” e na adoção de estratégias mais eficazes no combate aos incêndios. Desde o início de 2000, “houve mudanças positivas”, mas foram “tímidas” e, não raras vezes, desajustadas. À cabeça, a desproporção do investimento feito nos meios e estratégias de combate aos incêndios, em detrimento do investimento necessário para a prevenção.
Em 2013, a Autoridade Nacional da Proteção Civil (ANPC) dava conta que o dispositivo de combate a incêndios tinha um custo previsto de 74 milhões de euros, enquanto a prevenção mereceria apenas um investimento de cerca de 20 milhões. Daí para cá, o desequilíbrio mantém-se. “O sistema de combate a incêndios está divorciado do sistema de prevenção“, sublinha Paulo Fernandes. Em situações de crise como esta os sinais desse desequilíbrio dão de si.
É isso que diz também José Cardoso Pereira, professor catedrático do Departamento de Engenharia Florestal do Instituto Superior de Agronomia (ISA), ao Observador. “O sistema é vítima do seu próprio sucesso. O ênfase colocado no combate aos incêndios tem efeitos que a curto-médio prazo são perversos. Resolvemos o problema a curto prazo, enquanto acumulamos vegetação nas matas e florestas que depois de servem de combustível”, reitera.
Depois, continua José Cardoso Pereira, há uma certa “atração política de responder com reforço de meios de combate“, ao invés de um plano consistente de prevenção. “É mediaticamente mais atrativo”, aponta. “Vemos todos os dias os noticiários das oito a serem abertos com helicópteros Kamov no terreno. Mas não vemos noticiários a serem abertos com desempregados a limparem as matas”, exemplifica o investigador.
Para isto contribui também um “sistema apoiado em corporações de bombeiros” e em”grupos de pressão política” — com “interesses legítimos”, salvaguarda o investigador — que impele os decisores políticos a colocarem a tónica no reforço de meios de combate aos fogos, quando os esforços deveriam ser concentrados também na prevenção.
Não são de excluir, ainda assim, as características invulgares do território e do clima português, que ajudam a explicar, pelo menos em parte, o porquê de Portugal ter um número anormal de incêndios quando comparado com os restantes países da bacia do Mediterrâneo, como Espanha, França, Itália e Grécia. “A metade do país a norte do Rio Lima, o ‘Portugal Atlântico’, é a zona da Europa onde a vegetação cresce mais rapidamente“. Este ano, em particular, depois de um “inverno e de uma primavera chuvosos”, que “potenciaram ainda mais o crescimento da vegetação”, chegou um verão quente, “uma vaga de calor” a que se juntou, nos últimos dias, um vento forte. “Foi a conjugação fatídica“. Um cocktail explosivo.
Os dois investigadores ouvidos pelo Observador concordam noutro ponto: a atividade humana é uma dimensão fulcral que ajuda a explicar também o número elevado de ignições. “Essa zona do território português é marcada por uma intensa exploração agrícola. As pessoas utilizam o fogo na pastorícia, como ferramenta de trabalho“, muitas vezes de forma negligente, aponta José Cardoso Pereira.
Além disso, está enraizada uma certa “cultura de risco“, completa Paulo Fernandes. “As pessoas não têm perceção do risco em que vivem. Não limpam as áreas que envolvem as habitações. Não há uma cultura de autoproteção“.
Prevenção é a resposta. Mas não chega.
Se o diagnóstico é complexo, as respostas possíveis são ainda mais complexas. “O combate aos incêndios é um puzzle, com várias peças por juntar. É preciso atacar em todas as frentes, mas de forma integrada”, admite Paulo Fernandes. O “ideal”, continua o investigador da UTAD, seria colocar a tónica no “reforço da prevenção e da gestão florestal. Mas isso requer muito trabalho e muito tempo”, sublinha. E é preciso encontrar respostas mais rápidas.

Logo à partida, é urgente fazer uma aposta decidida na especialização dos autoridades competentes e em campanhas de sensibilização e fiscalização. “É preciso criar um sistema de combate aos incêndios mais especializado. Em Portugal, continuamos a olhar para os incêndios numa ótica de proteção civil. Não há bombeiros florestais especializados, não existem engenheiros florestais suficientes“, capazes de compreenderem o comportamento do fogo e de aplicar os melhores métodos. “Espanha tem esses meios desde a década de 60“, compara o investigador.
José Cardoso Pereira ajuda a completar o raciocínio. O investigador acredita que Portugal continua longe das melhores práticas no que diz respeito ao uso do fogo controlado para evitar problemas maiores no futuro, na criação de uma rede sólida de faixas de gestão de combustível ou no uso do gado miúdo como técnica ambientalmente sustentável de remoção de vegetação, à semelhança do que já faz, por exemplo, o estado da Califórnia, nos Estados Unidos. Em Portugal, as apostas que foram feitas nesse sentido foram “muito tímidas” e pouco significativas em termos de investimento.
Mas isso são respostas para o futuro. No presente, e apesar do estado de calamidade, a situação não deve agravar-se. “O mais provável é que nos próximos dois, três dias a situação se desagrave”. As altas temperaturas, que tanto têm dificultado o trabalho dos bombeiros, devem diminuir. Mas os estragos estão feitos. “Em média, 80% da área que arde num ano arde em 10/12 dias“, lembra José Cardoso Pereira. As próximas horas serão críticas. Depois, prevê-se uma acalmia. No entanto, conclui o investigador, “ficou provado que quando as coisas correm mal, correm realmente mal“. Resta saber como — ou quando — será a próxima vez.

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«Celestino Neves» >> Mais uma acha para a enorme fogueira em que arde o... Orçamento do nosso País e o próprio País! Mas esta eu quero ajudar a manter bem acesa para funcionar como contra-fogo à outra que nos queima os bens, as casas, às vezes alguns amigos e nos enche a alma de revolta.

«Arnaldo Andrade» >> Esta imagem, é de um local bem perto de um centro hospitalar, sendo visível a falta de limpeza da mata/área... uma imagem igual a outras áreas de norte a sul... onde está a prevenção?

Incêndios florestais limpeza ArnaldoAndrade 10Ago

 

 09h30 de 11Ago2016 

Incêndios Ago2016 aa.jpg

As notícias continuam a não ser nada animadoras: Fogo dantesco deixa várias povoações de Arouca em risco; Passadios do Paiva evacuados devido ao fogo em Arouca; Evacuada aldeia de Drave; Autarca de Arouca preocupado com falta de meios para substituir bombeiros; Quase dois mil operacionais combatem 12 maiores fogos no continente; No distrito de Viana do Castelo há fogos nos concelhos de Arcos de Valdevez e Caminha, os quais estavam a ser combatidos por 292 operacionais, com o apoio de 97 veículos; Pelo menos 40 mil hectares ardidos no continente desde o início do mês; Fogo já destruiu 150 habitações na Madeira.

Agora há que “enterrar os mortos e tratar dos vivos”, como dizia o Marquês de Pombal, mas depois temos muito que conversar sobre este flagelo anual. No Parlamento, nas Assembleias Municipais e de Freguesia, não nos poderemos calar, perguntando insistentemente como, com quem e quando se começa a prevenir os incêndios florestais.

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«José Camilo» >> Eu sei. Mas não me apetece correr risco de vida.

«Henrique Camões» >> Todos (ou quem quis), viu o secretario de estado na SIC no Domingo passado, louvar as medidas de prevenção tomadas por este governo, e que por esses medidas a área ardida até aí seria inferior à área ardida em igual período do ano passado, agora como alguém disse "é só fazer as contas", e enfiar o barrete, é que um pouco de humildade não fica mal a ninguém, digo eu!

«Albertino Amaral» >> Espero que tão logo cesse este momento tão difícil para Portugal, incluindo Madeira òbviamente, os responsáveis pela governação do país, tenham o bom senso de parar um pouco de pensar com os calcanhares, e ponham a cabeça a funcionar, para tentar encontrar a fórmula de acabar definitivamente com este flagelo dos incêndios. Começo mesmo a acreditar que isto é propositado e tem a sua conivência.

 

  14h00 de 11Ago2016

Incêndios lixos aa.jpg

Para mim, que não sou jurista nem para isso tenho a mínima apetência, é tão criminoso o pobre de espírito que com um isqueiro deita fogo ao mato para depois ver passar os carros de bombeiros de que tanto gosta, como o empreiteiro que manda os seus empregados deitar numa escarpe de floresta os restos de entulho de uma obra, a maior parte das vezes incluindo perigosas latas com restos de tintas e outros produtos altamente inflamáveis.

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«António Magalhães» >> Civismo trata-se com educação e não com leis feitas por gente tudo menos cívica. Daí que não saímos da cepa-torta!

«Jose Riobom» >> ...pois ...certamente ...num país com os problemas como este as taxas proibitivas cobradas para depósito deste tipo de entulhos é convidativa a este tipo de atitudes. Quando o crime pode compensar é convidativo a que estas coisas sucedam.

«António Vidal» >> Em Singapura as pessoas usavam pastilhas elásticas e atiravam-nas para o chão. Educando as populações teriam de esperar uma geração. Como era urgente a solução foi proibir com pesadas multas. O tempo condiciona a solução.

«Joaquim Reis» >> Falta civismo, educação, e fiscalização, no tempo Salazar, não havia isto, é triste, dizer, isto mas é verdade, !!

«David Ribeiro» >> No tempo do Salazar isto não acontecia… e se acontecesse ele mandava proibir as notícias, com fez aquando das cheias de 1967 quando morreram centenas de pessoas nos arredores de Lisboa.



Publicado por Tovi às 08:43
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