"Devido à velocidade da luz ser superior à do som, algumas pessoas parecem inteligentes até as ouvirmos."

Quarta-feira, 20 de Dezembro de 2023
A mediatização... no “Como Mentem as Sondagens”

  Os meus sublinhados e apontamentos (IV)   
Sondagens-Mock-Diagonal_vermelho.jpgpag. 115 - As sondagens produzem informação que é tão relevante como complexa. Os dados assim obtidos permitem a especialistas compreenderem melhor o que nos rodeia e fundamentar iniciativas apropriadas. Repararam na palavra complexa? Pois, complexidade é exatamente aquilo que os media não conseguem formular. O jornalismo é a técnica da simplificação. O seu modus faciendi é mesmo o de transformar em comunicação simples as circunstâncias mais complicadas. Tudo o que se diz tem de ser encapsulado num sound bite de dez palavras. Da generalidade das sondagens não se retira uma conclusão única, muito menos um sound bite de dez palavras. Nem um prognóstico eleitoral. Os estudos de opinião servem para muita coisa, mas não servem para prever os resultados de uma eleição. E, nos media, os dados das sondagens são lançados com tal imprudência (ia escrever arrogância) que muitos tenderão a concluir que nem vale a pena ir votar porque já se anunciou quem ganha e quem perde.



Publicado por Tovi às 07:02
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Sábado, 2 de Dezembro de 2023
Os indecisos... no "Como Mentem as Sondagens"

   Os meus sublinhados e apontamentos (III)  
GettyImages-1616275713-ai_750x540_acf_cropped.jpg pag. 84 e 85 - A segunda dificuldade [no caso da abstenção] prende-se com o tratamento a dar aos ditos indecisos. É que o movimento de decisão dos eleitores é assíncrono e, em alguns casos, arrasta-se até um período posterior ao conhecimento dos candidatos e e das propostas. Por isso é que, nos estudos eleitorais, à mentira da abstenção se soma a dúvida dos indecisos. Estes serão sempre uns 20%, 15%, 10%, - se bem que a tendência seja, naturalmente, para que a sua expressão vá diminuindo à medida que nos aproximamos do momento eleitoral. O que fazem as empresas de estudos de opinião com os indecisos? Escondem-nos. Isto é, desculpando o exagero, pegam neles e transformam-nos em eleitores decididos. Pois se o inquirido tem dúvidas sobre em quem vai votar - embora garanta que tenciona votar, o que também sabemos ser duvidoso -, o investigador não tem dúvidas e vota em seu nome. A distribuição de indecisos é como o bacalhau, são conhecidas cem receitas para o fazer. Mas, tal como o bacalhau, só uma é realmente do meu gosto. A minha distribuição à Gomes de Sá é a proporcional - o que, na prática, significa a anulação da percentagem de indecisos levando as intenções de voto expressas a totalizar 100%.  Deixando claro: distribuem-se os indecisos na exata proporção das intenções de voto. Se temos 10% de indecisos e o partido A tem 20% de intenções de voto, com a distribuição de indecisos passa a ter 22%.
pag. .102 e 103 - Pode uma sondagem fazer simultaneamente bem à alma e mal à saúde? Esta pequena história dá-nos uma resposta afirmativa. Estávamos em 1987, decorria mais uma campanha eleitoral para as Legislativas depois de o Governo de maioria simples ter caído no Parlamento. Aníbal Cavaco Silva estava em campanha. É uma daquelas campanhas pesadas, com três ou quatro comícios por dia, que se usavam à época. Havia uma genuína preocupação com a voz do candidato. Aguentaria ela uma agenda tão exigente? Para não correr riscos desnecessários, a equipa da candidatura integrava Manuel Pais Clemente, um otorrinolaringologista de prestígio. Algures na Serra da Estrela, entre Seia e Gouveia, o presidente do PSD fica sem voz. O jornalista Carlos Magno, que faz a reportagem para a Antena 1, antecipa o pior e vai consultar o médico para averiguar da extensão do problema. Ira a campanha ser suspensa? Será aliviada a agenda do candidato que é o principal ativo político do PSD? Pais Clemente descansa o jornalista: trata-se de um problema passageiro, uma emoção. Emoção como?, insiste, insiste, até que: A culpa é da sondagem. De facto, o quartel-general de Cavaco Silva tinha recebido os dados de uma sondagem interna em que pela primeira vez se abria a janela de uma maioria absoluta. Pelos vistos, estes dados tiveram impacto positivo na alma da equipa e negativo na voz do líder. O resultado real foi para além da previsão. O PSD obteve 50,22% de votos expressos. A primeira maioria absoluta de Abril, assinalava o expressivo título do JN: Cavaco quis, pode e manda.




Quarta-feira, 29 de Novembro de 2023
Continuando a ler "Como Mentem as Sondagens"

   Os meus sublinhados e apontamentos (II)
DSCF7023-1024x576.jpgpag. 67 - As campanhas eleitorais, como descobriram, em 1948, os especialistas em sondagens, são fundamentais para a mobilização dos eleitores, em particular quando os candidatos pretendem atrair indecisos e despertar os fãs. A generalidade dos cidadãos e das cidadãs votam sempre no mesmo partido. Exceto quando a campanha é invadida pela narrativa de que os seus votos não são especialmente necessários. Nesse caso, parte deles será levada à abstenção. Os outros leitores precisam de ser diretamente chamados a participar. Ou para que ganhem especial confiança num determinado candidato (em comparação com outros), ou porque preferem determinada fórmula de Governo, ou porque querem defender interesses próprios. diretos, opiniões, ou porque pretendem evitar a chegada ao poder de adversários. É fácil apercebermo-nos da importância numérica destes grupos de eleitores, num país como Portugal, se compararmos o número de votantes em Eleições Legislativas com o número de eleitores em Europeias - onde apenas quase só votam fãs dos partidos.
pag. 77 e 78 - Apesar da discrepância inevitável entre sondagens e eleições, parte dela parece também depender de fatores que não estão completamente fora do alcance de quem conduz as sondagens. Sondagens feitas por empresas com maior experiência no mercado e em contextos de maior competição entre empresas têm a tendência para gerarem resultados menos discrepantes com as eleições, sendo também visível, nalguns casos, a existência de empresas cujas sondagens tendem a estar sistematicamente mais distantes dos resultados eleitorais. Contudo, alguns dos restantes fatores que estão igualmente sob controlo de quem conduz sondagens - dimensão da amostra, modo de inquirição - parecem não estar relacionados com as nossas varáveis dependentes. (...) Foi detetada a tendência de se verificar uma discrepância cada vez maior entre sondagens e resultados eleitorais. A diminuição das taxas de resposta e da cobertura do telefone fixo podem estar por detrás deste fenómeno, revelando os importantes desafios que as empresas enfrentam no sentido de continuarem a fornecer informação precisa sobre as atitudes e intenções comportamentais do eleitorado.



Publicado por Tovi às 07:31
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Sexta-feira, 24 de Novembro de 2023
"Como Mentem as Sondagens" de Luís Paixão Martins

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Há muito que eu dedico algum tempo à recolha e análise de "estudos de opinião" sobre política nacional. Mas como sempre defendi que estas "sondagens" não deverão ser vistas cada uma de per si mas antes a evolução dos resultados num certo período de tempo, vou ler o livro "Como Mentem as Sondagens" (*) de Luís Paixão Martins, com a maior atenção. Encomendei-o em 17 de novembro, chegou na passada segunda-feira e imediatamente comecei a leitura. Vejam os meus sublinhados e apontamentos. 

 

(*) ISBN: 9789893514634 - Livros Zigurate out2023 - 16,11€

 

  Os meus sublinhados e apontamentos (I)
pag. 15 - Como escreveu W. Joseph Campbell, os eleitores sabem que devem olhar para os estudos eleitorais com ceticismo, tratá-los como se pudessem estar errados e não ignorarem o cliché de que são mais arte do que ciência. E, no entanto, ao desvalorizarem as sondagens, não devem ignorá-las por completo, porque nem sempre estão erradas. Nem sempre. 
pag. 25 - No rescaldo das Eleições Legislativas de 2022, foi comum ouvir comentadores e analistas explicarem a (para eles) surpreendente expressão  do resultado atribuído ao PS com a circunstância de ter havido um significativo movimento de eleitores moderados preocupados com o cenário hipotético de uma maioria de direita com o Chega. Se lhes pedíssemos que fizessem um cálculo empírico da dimensão desse contingente de eleitores, seria fácil obtermos estimativas de 5%, 6%, 7%. 
pag. 25 e 26 - A expressão margem de erro tem uma importante evidência comunicacional. Refere-se a erro. Numa sondagem, esta é a única expressão que relativiza os dados apurados. (...) uma coisa é anunciar que um candidato ou partido obteve 30% das intenções de voto num inquérito; outra bem diferente é que, sendo a margem de erro de 3,8%, por exemplo, esse resultado se situa no intervalo de cerca de 26% a cerca de 34%. 
pag. 30 - Quando somos confrontados com um resultado particularmente surpreendente ou dramático, o procedimento mais adequado é esperar para ver se o mesmo se confirma em sondagens sequentes. E esperar é, de facto, algo que não se pode pedir aos jornalistas. 
pag. 38 - A questão da representatividade da amostra não decorre apenas da vontade dos promotores dos estudos eleitorais e dos recursos envolvidos, Se fosse assim, seria relativamente fácil de resolver. O problema da ponderação parece insolúvel porque a taxa de resposta é dramaticamente baixa - e cada vez mais baixa. Segundo o Pew Research Center, uma das organizações mais importantes a fazer estudos de opinião, apenas 7% das suas chamadas telefónicas são atendidas. Comparando com 1970: eram 70%. 

 

  Falando com o autor..
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Publicado por Tovi às 07:25
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