Segundo as melhores teorias da conspiração o naufrágio do Bolama em 4 de Dezembro de 1991 teria sido obra da Mossad, serviços secretos israelitas, para impedir que a carga de urânio e armas vinda de uma ex-república soviética, que o navio transportava de forma dissimulada, chegasse à Líbia. A verdade é que um quarto de século depois o arrastão continua afundado a 130 metros de profundidade, entre o cabo Raso e o cabo Espichel, mas o caso ganhou agora novos contornos na justiça portuguesa, como nos relata o jornal Público de hoje, num trabalho de Ana Henriques.
Bolama: Ministério Público descartou hipótese de sabotagem - Estado português teve de pagar a família que fez queixa no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. (...) Quando foi comprado por uma sociedade luso-guineense de que fazia parte o empresário Salvador Caetano, no início dos anos 90, o arrastão já levava 22 anos de vida no mar e sofrera alterações de vulto em estaleiros navais, incluindo no do Seixal. Foi precisamente para testar algumas delas que naquela manhã saiu da barra de Lisboa, em direcção a um local próximo, onde esperava encontrar pesca. Com a tripulação seguiam alguns convidados: o genro de Salvador Caetano convidara na véspera António Alegria para uma almoçarada a bordo. Aos convivas tinha-se juntado ainda um dinamarquês das suas relações.
Apesar de as condições meteorológicas e do mar serem boas a saída não foi pacífica, como relata o jornalista Jorge Almeida num dos dois livros que dedicou ao assunto, intitulado O Mistério do Bolama – Acidente ou Sabotagem?: a Polícia Marítima intercepta o navio por não ter sido entregue na capitania nem o rol dos tripulantes nem outra documentação da praxe. O arrastão acaba por seguir viagem “em situação irregular”.
“A última comunicação do Bolama terá sido efectuada cerca das 13h30. Depois só existe silêncio. Um estranho e absoluto silêncio”, descreve Jorge Almeida. Nunca foi recebido nenhum pedido de socorro e nenhum dos meios de salvamento existentes a bordo – “duas balsas salva-vidas, um bote de borracha e várias bóias” – foi encontrado, descreve o jornalista. Todos os passageiros desapareceram, mas apenas foram encontrados os corpos de oito deles – e sem os coletes insufláveis vestidos.
Após dez dias de buscas infrutíferas em águas portuguesas, um avião da Força Aérea e uma fragata da Marinha rumam a Cabo Verde. A filha de Salvador Caetano havia de contar mais tarde que fora uma vidente russa que consultou quem lhe assegurou que era aí que se encontrava o Bolama, tendo transmitido essa informação às autoridades. Foi por esta altura que começaram a surgir as notícias que davam conta da carga secreta.
Oficialmente, o porão iria cheio de electrodomésticos dos pescadores, que teriam Bissau como destino. Mas ainda hoje há quem continue a acreditar que aquilo que lá havia eram armas e urânio, como Joaquim Piló. Dirigente de um sindicato de pescadores, foi dos que mais se bateram para que as famílias das vítimas fossem indemnizadas. Ainda se recorda dos telefonemas anónimos que recebeu na altura por causa disso: “Diziam: ‘Põe-te à tabela’”.
Só dois meses após ter desaparecido o navio foi encontrado, pousado direitinho no fundo do mar. Contraditórias entre si, as peritagens efectuadas nunca permitiram apurar o que se passou ao certo. Apesar de tudo, provou-se que o Bolama tinha perdido estabilidade para navegar depois de todas as modificações em estaleiro a que havia sido sujeito. Avançou-se ainda que teria havido uma avaria nas válvulas do fundo do arrastão, que não estariam bem fechadas. Trata-se de um mecanismo que, quando se abre, permite a entrada instantânea da água.
Nas circunstâncias em que se afundou, sem tempo para um aviso de socorro, sem ninguém ter visto um abalroamento, e tendo caído a direito no fundo do mar, só pode ter sido uma coisa repentina, como um problema nas válvulas de fundo", aventou o almirante que participou nas tarefas de localização e identificação do arrastão, 15 anos mais tarde.
Depois havia a intrigante questão do buraco oval e picotado no casco do barco, captado por câmaras subaquáticas. “É até hoje uma das principais bandeiras daqueles que defendem que por detrás do naufrágio existiu uma acção criminosa. Mas a minha investigação concluiu que a abertura já existia pelo menos nove meses antes do naufrágio”, escreve Jorge Almeida no seu livro.
O facto de nunca ter havido esforços, por parte do Governo, para resgatar o Bolama – o que poderá ser explicado pelo menos em parte com os custos que isso implicaria, muito embora os dinamarqueses se tenham oferecido para ajudar a custear a operação – contribuiu para adensar um mistério que criou uma incomodidade diplomática: iniciadas quando Durão Barroso tinha a pasta dos Negócios Estrangeiros e repetidas quando António Vitorino assumiu a pasta da Defesa, as tentativas do Estado dinamarquês para serem efectuadas mais diligências no sentido de apurar o sucedido foram infrutíferas. António Guterres chegou a prometer, na campanha eleitoral para primeiro-ministro, o apuramento das circunstâncias em que se deu o naufrágio. Na realidade, ninguém o conseguiu fazer cabalmente até hoje.
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