Lusa, 31ago2021 às 15h49
Aqui estão os cinco principais desafios que o novo regime afegão enfrenta.
1. Défice de confiança - Há uma suspeita generalizada entre a população urbana e educada sobre os Talibã e com boas razões. Muitos afegãos ainda se lembram do período 1996-2001, quando o movimento islamita estava no poder e aplicava uma leitura ultrarrigorosa da 'sharia', a lei islâmica. As mulheres não eram autorizadas a trabalhar e as escolas para raparigas foram fechadas, enquanto os opositores políticos foram executados e as minorias étnicas perseguidas. Vinte anos mais tarde, os Talibã dizem que pretendem prosseguir uma política diferente, inclusive em matéria de direitos da mulher. Prometeram também estabelecer um Governo inclusivo, entrando em contacto com o ex-Presidente Hamid Karzai. Enviaram também representantes para falar com a minoria predominantemente xiita Hazara, perseguida pelos Talibã nos anos 1990. Embora o regresso dos Talibã tenha sido acolhido com alívio em algumas zonas rurais do país, onde as pessoas querem, acima de tudo, acabar com a violência, muitos afegãos afirmaram querer primeiro ver as ações adotadas para depois fazer um julgamento. As mulheres permanecem em estado de alerta, na sua maioria enclausuradas em casa, um sinal da desconfiança generalizada. No vale de Panchir, a nordeste de Cabul, foi organizada uma verdadeira resistência em torno de Ahmad Massoud, filho do comandante Ahmed Shah Massou, assassinado em 2001 pela Al-Qaeda.
2. Desastre humanitário e económico - O Afeganistão é um dos países mais pobres do mundo. Após a queda do regime talibã, expulso do poder em 2001, a ajuda estrangeira inundou o país, representando, em 2020, mais de 40% do Produto Interno Bruto (PIB). Mas grande parte desta ajuda foi agora suspensa e os Talibã não têm acesso aos fundos do banco central afegão, a maioria dos quais está no estrangeiro. Washington já indicou que os Talibã não terão acesso aos bens e valores que estão no país, enquanto a Alemanha suspendeu a ajuda financeira total. Portanto, a situação poderá tornar-se num desastre, já que os Talibã terão de encontrar rapidamente dinheiro para pagar os salários dos funcionários públicos e assegurar que as infraestruturas vitais (água, eletricidade, comunicações) continuam a funcionar. As receitas atuais dos Talibã, que provêm principalmente de atividades criminosas, são estimadas pelas Nações Unidas entre 250 milhões e mais de 1,3 mil milhões de euros por ano. Um ganho financeiro que é visto como uma gota no oceano face às necessidades atuais do Afeganistão, segundo os especialistas. Neste contexto, a ONU alertou para uma "catástrofe humanitária" que poderá atingir duramente os afegãos neste inverno.
3. Fuga de cérebros - Para além da crise económica, os Talibã também terão de lidar com outra escassez, igualmente crítica e dramática: a de cérebros. Advogados, funcionários públicos, técnicos e muitos outros afegãos qualificados têm fugido do país em voos de retirada fretados por potências estrangeiras nas últimas semanas. Como sinal da sua preocupação, os Talibã instaram na semana passada os ocidentais a retirar apenas os estrangeiros e não os peritos afegãos, como por exemplo os engenheiros, necessários para a manutenção das infraestruturas do país.
4. Isolamento diplomático - Entre 1996 e 2001, o regime Talibã foi um pária na cena internacional. Desta vez, o movimento islamita parece inclinado a procurar um amplo reconhecimento no estrangeiro, embora a maioria dos países tenha suspendido ou encerrado as missões diplomáticas em Cabul. O grupo tem mantido contactos com várias potências regionais, incluindo Paquistão, Irão, Rússia, China e Qatar, mas nenhum deles reconheceu ainda a nova liderança em Cabul e os EUA advertiram que os Talibã terão "de conquistar" a sua legitimidade.
5. Ameaça terrorista - A tomada de controlo do país pelos Talibã não colocou um ponto final à ameaça terrorista, como ficou demonstrado pelo ataque de 26 de agosto, numa zona próxima do aeroporto de Cabul, reivindicado pela filial local do Estado Islâmico. O Estado Islâmico de Khorasan (ISPK), que segue uma linha sunita radical semelhante à dos Talibã, difere destes últimos em termos de teologia e estratégia. Como sinal da forte inimizade entre ambos, o Estado Islâmico qualificou os Talibã como apóstatas em vários comunicados e não os felicitou após a conquista de Cabul, em 15 de agosto. O desafio para os Talibã é, portanto, complexo: defender a população afegã do mesmo tipo de ataques que os seus próprios combatentes levam a cabo há anos no país.
Al Jazeera, 31ago2021 às 18h15
O novo governo do Afeganistão será anunciado nos próximos dias.
Al Jazeera, 31ago2021 às 20h05
Querem uma apostinha como não tarda muito e a Índia reconhece oficialmente o governo Talibã no Afeganistão?... E se assim for quem “perde a corrida” é o Paquistão.
Jorge De Freitas Monteiro - Nada é impossível por aquelas paragens mas a Índia foi dos países que mais apoiou a ocupação…
David Ribeiro - Eu também achei estranho os indianos serem os primeiros a fazerem reuniões com os Talibã, Jorge De Freitas Monteiro... mas é capaz de ser uma forma da Índia "passar a perna" ao Paquistão.
Wakil Kohsar da AFP News Agency fotografou os membros da unidade das forças especiais Badri 313 dos Talibã a chegarem ao aeroporto de Cabul a 31 de agosto de 2021, depois da retirada total das tropas dos EUA.
AFP News Agency
Cronologia dos principais acontecimentos no Afeganistão, desde a ocupação soviética até à derrota dos EUA.
Zabihullah Mujahid... o "Talibã 2.0".
“We want to build the future, and forget what happened in the past."
Al Jazeera, notícia de 08fev2021
E agora como estará o combate à pandemia no Afeganistão?
Situação da pandemia no Afeganistão (dados reportados à Organização Mundial da Saúde de 03jan2020 a 01set2021).
Reuters, 02set2021 às 16h06
O secretário de relações exteriores britânico, Dominic Raab, afirmou hoje, durante uma missão diplomática em Doha, que “a realidade é que não reconheceremos os Talibã em nenhum momento num futuro previsível, mas acho que há um espaço importante para engajamento e diálogo”.
Al Jazeera, 02set2021 às 19h57
A maior empresa de transferência de dinheiro do mundo vai retomar os seus serviços para o Afeganistão depois de ter suspendido a sua operação há duas semanas, quando os Talibã avançaram em Cabul.
JN, 02set2021 às 22h18
Militares portugueses partem para o Kosovo para cooperar com forças de outras nações, no campo Bechtel, um alojamento temporário para a operação de apoio aos cidadãos civis afegãos retirados de Cabul e que aguardam para serem recolocados em vários países de acolhimento.
Bahrein, Egipto, Arábia Saudita, Iémen e Emirados Árabes Unidos anunciaram hoje a suspensão das relações diplomáticas e o fim de ligações aéreas e marítimas com o Qatar, acusando o país de apoiar o terrorismo. Isto é certamente um terramoto político que poderá ter réplicas das quais ainda não temos muito bem noção do que poderá atingir.
Comentários no Facebook
«Gianpiero Zignoni» - Diz o roto ao nu......
«Joaquim Figueiredo» - Por alguma razão Trump vendeu 110 MM$ de armamento à Arábia Saudita. Para alimentar a guerra na zona? ou para alimentar os grupos terroristas?
«Jovita Fonseca» - Eles lá têm as suas razões...
«Raul Vaz Osorio» - A discussão deve ser na base do "para de apoiar os meus terroristas, arranja os teus"
«David Ribeiro» - Todos devemos estar preocupados com o eventual surgimento de um novo foco de tensões no mundo árabe, principalmente porque tudo ainda está demasiado nublado neste caso em que o Qatar, um emirado absolutista e hereditário actualmente comandado por Tamim bin Hamad Al Thani, é acusado pelos outros países do oriente médio de prestar assistência aos grupos terroristas na região e aos rebeldes houthis no Iémen. Recordamos que este país, cuja capital é Doha, foi um protectorado britânico até 1971, quando obteve a independência. Desde então, tornou-se um dos estados mais ricos da região, devido às receitas oriundas do petróleo e do gás natural (possui a terceira maior reserva mundial de gás). A sua área total é de 11.437 km2 (12% do território português) e tem uma população (censo de 2016) de 2.545.603 habitantes.
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