"Devido à velocidade da luz ser superior à do som, algumas pessoas parecem inteligentes até as ouvirmos."

Terça-feira, 19 de Outubro de 2021
A camioneta-fantasma

Foi há 100 anos!...

   Noite Sangrenta (outubro 1921)

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“A camioneta-fantasma! Foi o nome rocambolesco, filmesco com que o povo, os jornais atónitos ante o rocambolesco, filmesco capítulo das nossas revoluções, batizaram o estranho veículo de tragédias, em que se tornou uma simples camioneta da Administração Militar.”

No dia 19 de outubro de 1921, eclode uma revolta militar sob o comando do coronel Manuel Maria Coelho, antigo revolucionário do Movimento Republicano de 31 de Janeiro de 1891. O chefe do Governo, António Granjo, apresenta a demissão, mas o Presidente da República, António José de Almeida, não nomeia um novo executivo.
Neste ambiente de impasse, na noite de 19 para 20 de outubro, um grupo de civis e militares, liderado pelo cabo marinheiro Abel Olímpio, conhecido por O Dente de Ouro, conduz os acontecimentos da designada Noite Sangrenta.
Uma camioneta – a "camioneta-fantasma" – percorre Lisboa em busca de diversas figuras do regime republicano, que, forçadas a entrar no veículo, são posteriormente executadas. Na Noite Sangrenta são assassinados, entre outros, o Primeiro-Ministro, António Granjo, e dois protagonistas da Revolução de 5 de Outubro de 1910, Machado Santos e Carlos da Maia.
No dia 20 de outubro, A Capital apresenta um relato do sucedido na noite anterior:
“Grupos de revolucionários armados tinham ido a casa do capitão sr. Cunha Leal, onde prenderam o sr. dr. António Granjo (…) e ao que parece também a casa do capitão de mar e guerra Carlos da Maia, onde igualmente prenderam este oficial. (…)
Conduzidos em automóvel ao Arsenal da Marinha, ao ser aberto o portão (…) uma grande multidão armada (…) entrou de roldão, começando logo a apupar os dois presos (…).
Quando (…) chegaram ao quarto do 1.º andar, em que deviam ficar detidos (…) foram alvo de bastantes tiros. (…)
Pouco depois da morte do sr. dr. António Granjo e do sr. Carlos da Maia, deu-se em condições idênticas a do sr. Freitas da Silva, que foi chefe de gabinete do ministro da Marinha demissionário. Um grupo de indivíduos fora buscar a sua casa aquele senhor, metendo-o no “camion” da Guarda Republicana que seguiu para o Arsenal da Marinha. Ao chegar à porta daquele estabelecimento, foi atingido por vários tiros, falecendo instantaneamente.
Cerca da meia-noite um grupo de indivíduos foi a casa do almirante sr. Machado Santos, na rua José Estêvão, convidando a acompanhá-lo ao Arsenal da Marinha. No Intendente, porém, estabeleceu-se discussão entre aqueles indivíduos e o preso. Acabando o sr. Machado Santos por ser morto a tiro.”
No dia do funeral de António Granjo, a 24 de outubro, o Diário de Lisboa apresenta uma reconstituição das últimas horas do antigo governante, desde o pedido de abrigo na casa de Cunha Leal até ao desfecho no Arsenal na Marinha, que testemunha a crueldade do crime:
“O chefe do governo vencido mantém até ao fim a coragem que o abatimento não excluiu (…) Lança as suas últimas palavras, em que há ódio e resignação: Já sei o que vocês querem! Matem-me, que matam um bom republicano!
Soou uma descarga. (…) Granjo caiu ao comprido vertendo sangue por inúmeros ferimentos. Estava ainda nas últimas convulsões, quando um dos assassinos (…) sacou da espada e a cravou no estômago com violência tal que, atravessando o corpo, ficou presa ao sobrado.
Depois, friamente, o facínora, pondo o pé sobre o peito de António Granjo, sacou a arma e gritou triunfalmente, mostrando-a aos companheiros.
– Venham ver de que cor é o sangue de porco!”
Após o interregno dos trabalhos do Parlamento, em 2 de março de 1922, a Câmara dos Deputados e o Senado prestam homenagem aos antigos parlamentares vítimas do massacre da Noite Sangrenta, exigindo o apuramento da verdade.
A homenagem é uma oportunidade para refletir sobre os confrontos políticos e também sobre a evolução do regime republicano. O Presidente da Câmara dos Deputados, Domingos Leite Pereira, refere a responsabilidade coletiva pelo sucedido: "Essa injustiça sanguinária, insaciável, implacável, é também a resultante de longa e estonteadora luta em que portugueses se vêm debatendo; luta que tanta vez atinge o aspeto e as proporções duma infindável guerra de extermínio; luta estranha e tão obcecante que, dir-se-ia, entre nós as ideias são delitos e as opiniões são crimes. É tempo de a acabar. Meditemos na dura verdade de que todos temos culpas, e não esqueçamos que o embate de opiniões, necessário e inseparável das sociedades modernas, pode e deve fazer-se numa atmosfera superior de justiça, recíproca, de respeito mútuo; sejamos dignos do nosso tempo e, sobretudo, recordemos que somos irmãos da mesma raça, filhos da mesma terra gloriosa."
O Deputado Cunha Leal, que tentara proteger António Granjo naquela noite, ficando ferido, defende a instauração da pena de morte: "É preciso que nos defendamos e repito o que aqui disse já: – precisamos restabelecer a pena de morte para certos crimes, respondendo com a morte a quem mata. Precisamos defender a sociedade por uma forma implacável. Ainda como homenagem aos mortos de 19 de outubro, eu prometo trazer aqui um projeto restabelecendo a pena de morte."
O Presidente do Ministério, António Maria da Silva, rejeita a ideia de restabelecer a pena de morte: "Há de fazer-se justiça a quem delinquiu. Ninguém tem o direito de duvidar de mim nem dos homens que estão nas cadeiras do Poder, embora o Poder Executivo não possa intervir nas averiguações da justiça. (…) Mas, para isso, não é preciso instituir de novo em Portugal a pena de morte, contra a qual toda a minha natureza se revolta. Seria um verdadeiro crime, seria corresponder ao ato do Dente de Ouro com um outro crime. Não podemos retrogradar. Seria mesmo inconstitucional que se promulgasse qualquer providência que se parecesse um pouco, embora de longe, com essa medida. Não é legítimo que num regime de liberdade se aplique qualquer penalidade, seja a quem for, que não seja inscrita no Código da Justiça para os atos praticados em determinado momento. Estou convencido de que se pudéssemos consultar António Granjo, Machado Santos e Carlos da Maia, eles próprios se revoltariam contra uma determinação da Câmara tendente a instituir a pena de morte."
Em 1923, os responsáveis diretos pelos assassinatos seriam julgados e condenados a penas de prisão e de degredo, não se tendo, no entanto, averiguado completamente as causas que permitiram o sucedido na Noite Sangrenta, nem as suas ligações com os responsáveis pela revolta do dia 19 de outubro de 1921.



Publicado por Tovi às 07:41
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Segunda-feira, 5 de Outubro de 2020
Viva a República ! ! !

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O presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, assinalou a celebração dos 110 anos da República com um discurso marcado pelas consequências da covid-19.
"Vivemos em tempo de duas graves crise, de algum modo, em tempo de exceção e legalmente em tempo de exceção sanitária há mais de sete meses", disse Marcelo Rebelo de Sousa. "Este 5 de outubro é vivido também em estado de exceção económica e social", acrescentou o presidente da República.

"Este 5 de outubro é dos mais difíceis e exigentes, senão o mais sofrido, de 46 anos de democracia", disse Marcelo Rebelo de Sousa. "Acresce que a pandemia e a paragem económica e social não são só nossas são de todo o mundo. Acresce que ninguém sabe quando terminará a crise na economia, acresce que a recuperação económica demorará anos", acentuou o presidente da República, deixando recados aos governantes e aos que vão gerir os milhares de milhões de euros que vão arribar da União Europeia para ajudar a mitigar a crise.
"Temos de continuar a resistir e vamos continuar a resistir, ao medo, ao facilitismo e à tentação de encontrar bodes expiatórios, numa luta que é só de todos e não é só de alguns", disse Marcelo Rebelo de Sousa. "Temos de resistir na vida e na saúde", acrescentou o presidente da República.

 

   Hoje, no Porto… deposição de coroa de flores junto da estátua de Afonso Costa.
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   Fernando Duarte no Facebook

Hoje, aqui na aldeia ....... nada se passou ! E porque haveria de se passar, perguntas tu ? Porque foi aqui, diante da porta de uma casa que mais tarde foi dos meus avós, que alguém abandonou uma alcofa com um bebé là dentro. Era o Afonso Costa. Apenas aqui temos a rua com o nome dele e o registo na Igreja do baptismo, porque naquela altura era nesse momento que se registavam os recém-nascidos, a Igreja é que detinha o "registo civil" !


Publicado por Tovi às 00:03
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Sexta-feira, 31 de Janeiro de 2020
129º aniversário do 31 de Janeiro

Discurso de Pedro Baptista (escritor, investigador, deputado municipal no Porto e Comissário Geral das Comemorações da Revolução Liberal de 1820 da cidade do Porto) durante as cerimónias comemorativas do 129º aniversário do 31 de Janeiro.

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Portuenses! Portugueses!
Não lembramos quantas vezes nos deslocamos a este local, na manhã deste dia! Mas quem cumpre esta homenagem desde jovem, e já não é jovem, lembra os tempos em que não se perfilavam aqui forças institucionais em continência, mas se disseminavam pelos umbros, sombras escondidas, destinadas ao terror e à repressão!
Esses aprenderem, nesta escola, em repetidas manhãs de correrias, vozearias, espancamentos, prisões, e até tiros, que o 31 de Janeiro é dia de lembrança do luto, mas é sobretudo dia de lembrança da luta, dia de luta para quem acredita na liberdade enquanto progresso do homem social na história.
Desde que, pelo fim da adolescência, começamos a participar nesta homenagem, o epitáfio gravado neste monumento funerário, erigido ainda no tempo da monarquia, nunca deixou de repicar no fundo da nossa consciência: “Aos vencidos!” Não ato piedoso para com os que foram vencidos! Pelo contrário, reconhecimento de que, ao serem vencidos na maior das honras de terem oferecido as vidas à nobreza da maior das causas, não foram vencidos, porque o exemplo frutificou e disseminou-se, agente sobre as gerações futuras, marco erigido e fulgente na história sobre a poeira dos que, simplesmente, voltaram ao pó! Aos Vencidos! Honra aos Vencidos, senão mesmo Glória aos Vencidos, porque foram os vencedores, por isso são homenageados! Mesmo que na história, 1910 republicano não tenha realizado os desígnios federalistas de 1891... e até os tenha traído soçobrando ao monstro centralista... mas longos dias tem cem anos e ainda mais dias tem duzentos: o futuro realizá-los-á!
Meus amigos portuenses e portugueses.
É a terceira vez que tomo a palavra nesta evocação anual. Desta, a convite da Associação 31 de Janeiro, que agradeço.
Este ano, em que celebramos o centésimo vigésimo nono aniversário do 31 de Janeiro de 1891, celebramos também o ducentésimo aniversário 24 de Agosto de 1820!
No ideário de uma parte dos revolucionários liberais de 1820, estavam os pressupostos republicanos que impeliriam ao 31 de Janeiro de 1891.
Se podemos sublinhar que são processos diferentes, com 71 anos de distância entre eles, poderemos também afirmar que um aparece no seguimento do outro, comungando, no fundo, do mesmo ideário.
Ambos foram respostas a apelos patrióticos contra a prepotência inglesa, mas em 1820, o programa da revolução era mínimo, clamando pela eleição de novas cortes constituintes em nome do rei, enquanto o de 1891, era republicano e federalista, pela demolição da monarquia e do centralismo.
Invariável foi a recusa de Lisboa em aderir aos movimentos revolucionários desencadeados no Porto, situação que se repetirá, em 1927, a 3 de Fevereiro, o primeiro levantamento contra a ditadura instalada em 1926, cujo nonagésimo terceiro aniversário assinalaremos na próxima segunda-feira, com o Porto, mais uma vez sozinho, secundado apenas, no dia 7, quando Inês estava morta, pela lisbonense “revolução do remorso”.
Meus amigos:
Visitar este monumento funerário “Aos Vencidos” do 31 de Janeiro de 1891, não provoca a reação lúgubre de uma Saudade regressiva e depressiva! Pelo contrário, a visita a estes exemplos de heroicidade, desprendimento e nobreza dos espíritos, convoca-nos a uma Saudade progressiva e otimista de confiança no futuro, lembra-nos que as grandes causas enfrentaram as maiores vicissitudes e que, na história, a derrota foi, tantas vezes, a mãe da vitória de amanhã.
Não há ciclos históricos encerrados para o Porto! Os ciclos abrimo-los nós, na determinação da vontade coletiva!
Acreditamos no futuro!
Viva o 31 de Janeiro! Viva o Porto! Viva Portugal!



Publicado por Tovi às 13:15
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Sexta-feira, 6 de Abril de 2018
Cocheiro... cocheiro real

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Deve ser por eu me assumir sempre como Republicano que nas brincadeiras da minha neta nunca sou príncipe ou rei, nem sequer um simples lanceiro ou arqueiro, sou sempre o cocheiro... mas cocheiro real.



Publicado por Tovi às 17:58
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Sábado, 3 de Fevereiro de 2018
Primeira Revolução contra a Ditadura

Como foi a primeira e maior revolução militar e popular contra a ditadura, a que eu gosto de chamar “o início do Reviralho”.

 

   Assim nos conta o meu amigo Pedro Baptista.

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Faz hoje 91 anos eclodiu no Porto a primeira e a maior revolução militar e popular contra a ditadura. Foi pois a 3 de Fevereiro de 1927. Há um ponto comum entre esta revolução portuense derrotada e a do 31 de Janeiro de 1891. É que em ambos os casos, o Porto foi deixado sozinho por Lisboa, quando se esperava que também lá eclodisse e ao mesmo tempo. A cidade do Porto, com o apoio da maior parte dos aquartelamentos do Norte, entre os quais se destacou Amarante, Vila Real e Guimarães, foi cercada e bombardeada pela aviação e artilharia da ditadura que provocou centenas de mortos, 500 segundo alguns fontes. Á frente do movimento revolucionário estava o escol intelectual mais destacado da época entre os quais Jaime Cortesão. A ligação à Lisboa adormecida foi in extremis tentada por Raul Proença, numa traineira. Mas só quando o Porto estava derrotado, no dia 7, Lisboa decidiu aderir... Ao que já não existia, estava derrotado. Por isso Sampaio Pimentel, na sua obra "Memórias do Capitão", chama ao levantamento lisbonense do Rato, tardio e inútil, a "Revolução do Remorso". Estejamos atentos porque lá para terça ou quarta-feira os netos do Remorso vão intentar, como de costume, uma lavagem ao cérebro para mais uma vez falsificarem a história...

 

  A revolta de Fevereiro de 1927 no Porto (in Wikipédia)

A rebelião iniciou-se pelas 4h30 da madrugada do dia 3 de Fevereiro, com a saída do Regimento de Caçadores 9, a que se juntou a maior parte do Regimento de Cavalaria 6, vindo de Penafiel, vários núcleos de outros regimentos da cidade e uma companhia da Guarda Nacional Republicana aquartelada na Bela Vista, Porto.
O comando das forças fora confiado ao general Adalberto Gastão de Sousa Dias, tendo como chefe do estado-maior o coronel Fernando Freiria, apoiado por um comité revolucionário constituído por Jaime Cortesão, Raul Proença, Jaime Alberto de Castro Morais, João Maria Ferreira Sarmento Pimentel e João Pereira de Carvalho. Entre os apoiantes incluía-se também José Domingues dos Santos, o líder da esquerda democrática que em 1918 dirigira a conspiração civil contra a Monarquia do Norte.
Jaime Cortesão foi de imediato nomeado governador civil do Porto e Raul Proença, além de conspirador, foi organizador e combatente de armas na mão, servindo de ligação aos co-conspiradores de Lisboa.
Durante a madrugada e manhã do dia 3 de Fevereiro, as forças dos revoltosos dirigiram-se para a zona da Praça da Batalha, onde estavam as sedes do quartel-general da Região Militar e do Governo Civil e a mais importante estação do telégrafo. Nessa primeira acção foram aprisionados o general José Ernesto de Sampaio e o coronel João de Morais Zamith, respectivamente primeiro e segundo comandantes da Região Militar, o tenente-coronel Luís Monteiro Nunes da Ponte, governador civil do Porto, e o seu substituto, major Sequeira Tavares, o comandante da força que fazia a guarda ao quartel-general e o presidente da Comissão de Censura à Imprensa.
As forças governamentais, depois de algumas horas de desorganização, passaram a ser constituídas por uma parte reduzida do Regimento de Infantaria 18, que tinha como comandante o coronel Raul Peres, o Regimento de Cavalaria 9 e o Regimento de Artilharia 5, este aquartelado na Serra do Pilar. Na tarde do dia 3 de Fevereiro, sob o comando do coronel João Carlos Craveiro Lopes, chefe do estado-maior da Região Militar e governador militar da cidade, as forças pró-governamentais concentraram-se no quartel da Serra do Pilar e abriram fogo de artilharia contra os revoltosos.
Na manhã desse mesmo dia 3 de Fevereiro, numa manobra arriscada, mas indicativa da certeza de que estava assegurada a fidelidade ao Governo das tropas de Lisboa, o Ministro da Guerra, coronel Abílio Augusto Valdez de Passos e Sousa, saiu de Lisboa num comboio com destino a Vila Nova de Gaia, onde chegou ao anoitecer. Assumiu então o controlo operacional das forças pró-governamentais ali instaladas sob o comando do coronel João Carlos Craveiro Lopes, mantendo-se na frente de combate até à subjugação dos revoltosos.
Logo na manhã de 4 de Fevereiro, juntaram-se aos revoltosos os militares do Regimento de Artilharia de Amarante, cujas peças de artilharia obrigaram as forças governamentais a recuar para o Monte da Virgem, de onde o bombardeamento sobre os revoltosos prosseguiu. Nessa mesma manhã, as forças revoltosas concentram-se na zona citadina em torno da Praça da Batalha, em redor da qual se montaram trincheiras, metralhadoras e peças de artilharia. Na confluência da Praça da Batalha com a Rua de Entreparedes foram instaladas duas peças de artilharia.
Na manhã do dia 4 de Fevereiro, o Regimento de Cavalaria 8, vindo de Aveiro, fiel ao Governo, conseguiu penetrar o fogo dos revolucionários e atravessar a Ponte de Luís I, mas foi detido pelas barricadas que defendiam a Praça da Batalha. A mesma sorte tiveram as tropas fiéis ao Governo aquarteladas na própria cidade do Porto, que foram rechaçadas pelo intenso fogo das trincheiras dos revolucionários quando tentaram avançar sobre as posições dos sublevados.
Entretanto começaram a chegar mensagens de adesão de diversas guarnições, mas não das esperadas guarnições de Lisboa. Aderem tropas pertencentes a unidades aquarteladas em Viana do Castelo, Figueira da Foz e Faro, estas últimas apoiadas por forças de Olhão, Tavira e Vila Real de Santo António, mas por falta de apoio, particularmente de Lisboa, os recontros nestas cidades são esporádicos e a rebelião foi, na maior parte dos casos, subjugada em escassas horas.
Na tarde de 4 de Fevereiro, quando as adesões militares não corresponderam ao esperado, Raul Proença, profundamente envolvido na revolta, convoca os civis para combaterem ao lado dos revoltosos, mas com pouco sucesso. O movimento haveria de se manter até ao fim essencialmente militar, sendo poucas as adesões civis. Mesmo as restantes forças da Guarda Nacional Republicana estacionadas no Porto e seus arredores fizeram saber, através do seu comandante, major Alves Viana, que se manteriam neutrais, garantindo o policiamento da cidade "em defesa das vidas e dos haveres dos cidadãos", mas não interferindo na contenda entre militares.
Ao longo do dia foram sendo consolidadas as defesas do perímetro em torno da Praça da Batalha, com a colocação ao cimo da Rua de 31 de Janeiro, na bifurcação com a Rua de Santa Catarina, de uma metralhadora para impedir a progressão naquelas ruas. Tal foi a mortandade causada pela metralhadora ali colocada que a posição foi cognominada de a trincheira da morte.
Para completar o perímetro defensivo, foi colocada outra metralhadora numa trincheira construída na confluência das ruas de Cima de Vila e da Madeira, montada uma peça de artilharia à esquina do edifício do Hospital da Ordem do Terço, voltada para a Rua do Cativo, e colocada uma metralhadora no desaparecido Largo do Corpo da Guarda, ao cimo da rua que ainda mantém esta designação. Para além disso, levantou-se o pavimento e montaram-se duas peças de artilharia na Rua de Alexandre Herculano, na junção com a Praça da Batalha e a Rua de Entreparedes.
Para além de soldados do Regimento de Infantaria 6, de Penafiel, e da GNR da Bela Vista estacionados ao longo da Rua Chã, foram colocadas "vedetas", patrulhas constituídas por soldados e civis, ao longo de todo o perímetro.
Na tarde deste dia, o comandante Jaime de Morais, chefe militar do Comité Revolucionário do Norte, enviou ao general Óscar Carmona, Presidente da República, um telegrama contendo um ultimato em que se afirmava: Os oficiais revoltosos decidiram reintegrar o País dentro do regimen democrático constitucional, com a formação de um Governo Nacional que afirmasse a supremacia do poder civil, guardado e defendido pela força armada, que assim teria restituído as funções de que a desviaram.
Nesse mesmo dia 4 de Fevereiro, e nos dias imediatos, juntaram-se aos revoltosos do Porto forças provenientes de Penafiel, Póvoa do Varzim, Famalicão, Guimarães, Valença, Vila Real, Peso da Régua e Lamego. Vinda de Amarante chegou mais artilharia, a qual foi estacionada nas imediações de Monte Pedral. A artilharia da Figueira da Foz foi detida na Pampilhosa quando se dirigia para o Porto.
Ao contrário do previsto pelos revoltosos, até ao final do dia 4 de Fevereiro não se registaram quaisquer adesões em Lisboa, centro vital do poder político-militar, o que permitiu ao Ministro da Guerra, coronel Passos e Sousa, concentrar todas as forças no combate aos entrincheirados no Porto. Na tarde deste dia, a posição dos revoltosos era crítica, já que os pró-governamentais dominavam Lisboa e todo o sul de Portugal e controlavam a margem sul do Douro, tornando improvável o reforço das tropas revoltosas.
Entretanto, na manhã do dia 5 de Fevereiro o vapor Infante de Sagres chegava a Leixões, com tropas governamentais, comandadas pelo coronel Augusto Manuel Farinha Beirão, enquanto mais forças governamentais atravessavam o Douro em Valbom e se encaminhavam para o centro da cidade.
Nessa mesma manhã desenvolve-se uma tentativa de conciliação, que leva o comandante Jaime de Morais e o major Severino a visitar o quartel-general do Ministro da Guerra, instalado num prédio da Avenida das Devezas, em Gaia, numa tentativa de negociar a rendição em troca da liberdade para os revoltosos. Os parlamentários dos revolucionários foram obrigados a atravessar a cidade vendados, mas o resultado foi inconclusivo já que o Ministro recusou uma rendição que não fosse incondicional: ou a rendição total ou o bombardeamento da cidade. Falhada a conciliação, a partir das 16 horas do dia 5 de Fevereiro travou-se um grande duelo de artilharia entre as duas margens do rio Douro.
Durante a tarde do dia 5 de Fevereiro começou a montar-se o cerco aos revoltosos, envolvendo o Porto num anel de fogo e metralha: pelo norte, as tropas desembarcadas em Leixões pelo Infante de Sagres; por leste, tropas fiéis ao Governo vindas de Bragança e da Régua, chefiadas por António Lopes Mateus; e a sul, em Vila Nova de Gaia, concentram-se cerca de 4.000 homens vindos de várias guarnições, munidos de farta artilharia. Perante o apertar do cerco, na noite de 5 de Fevereiro, os revoltosos propõem um armistício, mas Passos e Sousa responde, na manhã do dia 6, com o reiterar da exigência de uma rendição incondicional e a ameaça de bombardeamentos ainda mais intenso e pesado, incluindo o recurso a obuses.
Raul Proença regressou a Lisboa na noite de 6 de Fevereiro para pedir auxílio e para tentar desencadear a revolta naquela cidade, já que o movimento, sem os apoios esperados, começava a enfrentar sérias dificuldades no Porto.
Naquelas circunstâncias só restava negociar a rendição, já que um ataque à baioneta contra as baterias governamentais da Serra do Pilar (Gaia) que invertesse a situação era virtualmente impossível e muito provavelmente redundaria num banho de sangue, sendo certo o bombardeamento da cidade. Com os olhos postos em Lisboa, onde a muito custo e com uma lentidão exasperante o movimento parecia finalmente arrancar, os revoltosos resistem durante os dias 6 e 7 de Fevereiro, mas à medida que as horas passam e as munições se esgotam cresce o sentimento de derrota e sobem de tom as vozes que advogam a rendição.
Finalmente, na tarde do dia 7 de Fevereiro, esgotadas as munições, o quartel-general dos revoltosos, instalado no Teatro de S. João, manda dispersar os civis ali aquartelados. À meia-noite o general Sousa Dias faz chegar ao Regimento de Artilharia 5, em Gaia, por intermédio do major Alves Viana, da GNR, um documento apenas por si subscrito, em que propõe a rendição, com salvaguarda da isenção de responsabilidades de sargentos, cabos e soldados. Passos e Sousa aceita apenas a isenção de cabos e soldados, declarando que os oficiais e sargentos envolvidos seriam punidos. Qualquer civil apanhado de armas na mão seria imediatamente fuzilado.
Sem mais opções, pelas três horas da madrugada do dia 8 de Fevereiro Sousa Dias aceita as condições propostas e ordena a rendição dos revoltosos. Pelas 8h30, Passos e Sousa entra triunfalmente na cidade, pela Ponte Luís I. Estava terminada a revolta no Porto.
Pouco depois o coronel João Carlos Craveiro Lopes envia ao general Óscar Carmona, Presidente da República, o seguinte telegrama: Felicito V. Ex.ª e o Governo da Nação. Tropas entraram Praça da Batalha, Porto, às 8 horas e meia, tomando conta da cidade onde a vida vai retomando a sua normalidade. Na tarde desse mesmo dia 8 de Fevereiro, o Ministro Passos e Sousa parte para Lisboa, cidade onde a revolta estava agora acesa.
Durante os 5 dias que durou a revolta no Porto perderam a vida mais de 100 pessoas, entre militares e civis, entre os quais o jornalista António Maria Lopes Teixeira, director do Diário do Porto. Foram mais de 500 os feridos, alguns dos quais viriam a sucumbir nos dias imediatos. Os estragos causados pelos bombardeamentos e tiroteios também foram grandes, com muitas casas devastadas e muitos edifícios públicos grandemente danificados.



Publicado por Tovi às 13:44
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Domingo, 29 de Outubro de 2017
História recente da Catalunha

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(El fusilamiento de Lluis Companys en los fosos del castillo de Montjuic)

Nestes dias de forte tensão na Catalunha, após a declaração uniliteral da independência e a suspensão da autonomia da região pelo Senado espanhol, convém não esquecer que apesar de no século XIX ter sido severamente afectada pelas guerras napoleónicas e carlistas, a Catalunha representou desde essa altura a força industrial da Espanha, sendo a primeira a introduzir a industrialização através do vapor, com o têxtil a representar a força da indústria. O capital estrangeiro investiu na Catalunha e isso introduziu a siderurgia, além de outros novos elementos característicos da Revolução Industrial. Os primeiros bancos conseguiram grande impulso durante a chamada Febre do Ouro até à quebra dos mercados de 1866.
Durante a curta vida da Primeira República Espanhola (1873-1874) duas propostas de Estado foram debatidas em Madrid: A primeira delas via a Espanha como uma única nação, a segunda, apoiada pela Catalunha, pretendia um Estado federado. Após o golpe de estado monárquico de 1874 nasceu o movimento chamado em catalão "Renaixença", o início das reivindicações do catalanismo político. Com a proclamação da II República Espanhola, em 1931, reconheceu-se novamente a autonomia da Catalunha, tendo-se chegado a proclamar unilateralmente a República Catalã, mas esta proclamação não foi bem aceite pelo governo de Espanha, embora fosse uma proclamação federalista. Com a derrota dos Republicanos na Guerra Civil (1936-1939), a Catalunha perdeu novamente a sua autonomia, todas as instituições de autogoverno catalãs foram banidas, e sofreu uma importante e pesada repressão cultural e linguística (com a abolição e proibição do uso do catalão), por parte do Estado Nacionalista Espanhol, totalitário e de inspiração fascista. Em 15 de Outubro de 1940 o presidente catalão, Lluís Companys, foi fuzilado pelo regime fascista espanhol. Com a morte do ditador Francisco Franco (1975) e o fim da ditadura, a Catalunha foi a primeira comunidade a recuperar outra vez a sua autonomia, restaurando a Generalitat (exilada desde o fim da Guerra Civil em 1939) e adoptando um novo Estatuto de Autonomia em 1979.

Com uma história destas quem duvida que mais-dia-menos-dia a agora auto-proclamada República Catalana será uma realidade?

 

   14h00 de hoje

Milhares de pessoas manifestam-se em Barcelona contra a independência da Catalunha - Como sempre nestas coisas os números são díspares e feitos à vontade de cada um: polícia municipal diz serem cerca de 300 mil e a organização garante que são mais de um milhão. Mas não há dúvida que a Catalunha está completamente dividida e a marcação de eleições na comunidade autónoma para Dezembro só vai contribuir para o extremar das posições. Puigdemont e Rajoy arranjaram uma bonita encrenca… que não sabemos como irá acabar.



Publicado por Tovi às 12:14
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Sábado, 28 de Maio de 2016
Assim nasceu o Estado Novo

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Em 28 de Maio de 1926 um pronunciamento militar de cariz nacionalista e antiparlamentar põe fim à Primeira República e implanta um regime ditatorial que se manteve no poder em Portugal até à Revolução dos Cravos de 25 de Abril de 1974. O General Gomes da Costa esteve desde a primeira hora à frente das tropas que se sublevaram em Braga (Regimento de Infantaria 8), com acompanhamento e apoio civil, incluindo do operariado da região, tendo recebido a adesão imediata de outras cidades como Porto, Lisboa, Évora, Coimbra e Santarém. Consumado o triunfo do movimento, a 6 de Junho de 1926, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, Gomes da Costa, montado no seu cavalo, desfila à frente de 13 mil homens, sendo aclamado pelo povo da capital. Estava a começar o Estado Novo… e ia durar 48 longos anos.

 

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«Jose Riobom» >> Gosto ? .....não ....não gosto ! ....tenho é que denunciar uns novos candidatos a este tipo de coisas que por aí andam encapotados armados em democratas neo-liberais...

«Fernando Duarte» >> o importante é saber como morreu, se é que jà morreu !

«Adao Fernando Batista Bastos» >> No espírito de alguns o Estado Novo continua, apesar de velho e podre! Vou partilhar esta excelente Memória.

«Natércia Bragança Fontes» >> Ainda estamos a pagar o resultado destes 48 anos de estagnação e humilhação.



Publicado por Tovi às 08:21
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Domingo, 31 de Janeiro de 2016
31 de Janeiro de 1891

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Há 125 anos o Porto foi o centro da revolta contra a monarquia. A revolução fracassou, mas ajudou a fermentar a vontade de mudança. Foi apenas o ponto de partida para um movimento imparável que culminou com a implantação da República, a 5 de Outubro de 1910.

 

 O meu Amigo Pedro Baptista escreveu hoje

31 DE JANEIRO: dia de muitas lutas...

Celebra-se hoje, o 125º aniversário da primeira revolução republicana portuguesa e da primeira proclamação da República, ocorridas no Porto, 19 anos antes da revolução vitoriosa.

Celebra-se também, na próxima quarta-feira, dia 3 de Fevereiro, o 89º aniversário de outra Revolução portuense derrotada, a da primeira revolução contra a Ditadura instaurada em 1926, derrotada a 7 de Fevereiro de 1927 pelo bombarda e aviação governamentais, pouco antes de eclodir em Lisboa, já ao destempo, o que Sarmento Pimentel veio a classificar de “A Revolução do Remorso”.

O 31 de Janeiro de 1891 foi celebrado pela elite republicana portuense e de muitas outras cidades durante os 48 anos de ditadura militar, salazarista e marcelista, sendo um dia de luta que, pela convergência oposicionista, fazia sempre estremecer o regime.

Lembrámo-nos de ter 19 ou 20 anos quando junto ao monumento de glorificação dos Vencidos do 31 de Janeiro, no Cemitério do Prado do Repouso, gritámos um dos nossos primeiros “Abaixo o fascismo”, logo seguido dum clamor uníssono, quando a luta oposicionista, pelos finais da década de 60, passava para uma fase mais aguerrida de combate à ditadura e à guerra colonial. Lembrámo-nos de um grandioso comício, na noite do 31 de Janeiro de 1970, com o Coliseu a transbordar de gente e de entusiasmo democrático, da sequente manifestação de rua, da brutal e habitual repressão policial ao fundo de 31 de Janeiro e de todos sentirmos que, com o ímpeto que a luta estava a tomar, o fim da ditadura e da guerra não podiam estar muito longe, viéssemos ou não viéssemos, pessoalmente, a ver-lhes o término.

Depois do 25 de Abril de 1974, no Parlamento, pelo menos enquanto lá estivemos, em mandato único, na supina honra de representar os cidadãos do Porto, houve sempre, a 31 de Janeiro, da boca de Raul Rêgo, uma interpelação à Mesa para aludir à efeméride, o primeiro grande marco da luta pela República. Quando o nosso querido Camarada, com quem ainda pudemos privar algum tempo, se teve de afastar e em seguida faleceu, fizemos questão de nunca deixar de lhe seguir o exemplo, e interviemos sempre, a 31 de Janeiro, do alto da tribuna, para realçar o significado histórico da data para o Porto e para o país.

Parece ter sido prática que desapareceu da arena parlamentar. Não é de estranhar. E nem sequer será preciso explicar porquê.

 

  Comentários no Facebook

«Pedro Baptista» >> Obrigado, amigo David Ribeiro, bom 31 de Janeiro, até breve!

«Gonçalo Graça Moura» >> A primeira revolta liberal culminou na primeira ditadura sanguinária republicana? um bocado rebuscado isso, não?

«David Ribeiro» >> O grande mal do início da República foi a alternativa ao liberalismo ter como base o entendimento entre integralistas e católicos sociais, ambos defensores de um corporativismo autoritário… e esse “gosto” pelo poder absoluto manteve-se durante muito tempo… e mesmo nos dias de hoje ainda há alguns “tiques” autoritários.



Publicado por Tovi às 07:28
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